Paulo Anshowinhas
Do UOL, em São Paulo
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- Paulo Anshowinhas/UOL
Garotas movimentaram evento de longboard no Parque da Independência, em São Paulo
Thais veio de Brasília, onde mora, com seu long para participar da prova junto com outros 31 competidores, sendo 28 homens e apenas quatro meninas.
"É o que temos por enquanto", diz Thais, ao se referir a questão dos organizadores não criarem uma categoria específica para as garotas. "Muita gente acha estranho ver meninas andando, mas curte e tem muita admiração", completa.
"A partir desse evento começa uma revolução na modalidade, muitas meninas verão que é possível e vão começar a praticar", profetiza Reine de Oliveira, 31 anos, bicampeã brasileira e bicampeã sul-americana de downhill, longboard e speed. "As meninas andam 'for fun', para sentir a sensação de liberdade e cabelos ao vento, embora sempre exista um risco, pois asfalto machuca", alerta.
Sorridente, Reine não competiu nessa prova pois foi convidada pelos organizadores para fazer parte do corpo dos jurados, junto com o campeão mundial de skate vertical Sandro Dias, o Mineirinho, e o carioca Pedro Scooby, surfista de tow in (ondas grandes puxado por jet ski) mais conhecido como marido da atriz Luana Piovani.
Nenhuma das quatro competidoras (Flávia Dian, Tamires Rochenbach, Thais Yeleni e Patrícia Villar) chegou a final, mas conquistaram aplausos e grande incentivo do público. "É triste não ter uma categoria feminina, pois o nível dos meninos é muito diferente", critica Flávia Regina Dian, de 27 anos, que correu com seu long de pés descalços para mostrar que a modalidade pode literalmente ser chamada de surfe do asfalto.
Assim como Flávia, Patrícia Villar Aragão, de 29 anos, também se arriscou a descer a ladeira de asfalto escaldante sem calçados em uma tarde de sol de 29 graus. "O problema é subir a rua nesse calor, tem de ir pulando para não queimar os pés", explica.
Um dia antes da competição, o UOL Esporte reuniu outro grupo de meninas - que não participou da competição - para acompanhar os treinamentos e descobriu que a onda do longboard feminino está se espalhando em alta velocidade.
"Cada dia tem mais menina andando que sempre tiveram vontade, mas apenas agora estão criando coragem e indo para as ruas", comenta Marianne Duvekot, de 26 anos, que se arrisca a dizer que o medo de cair não a impede de ser feliz e fazer o que gosta. "Posso estar caminhando na calçada, escorregar, bater a cabeça e morrer também", exagera a morena.
"Primeiro o skate domina você, depois você domina o skate", ensina Marianne, que anda de skate há 10 anos e tem o apoio da Concrete Surfers Skateboards.
No caso do longboard, tamanho importa sim. A partir de 35 polegadas de comprimento (cerca de 88 cm) os skates já podem ser considerados de long. A prancha de 40 polegadas (cerca de 1 metro) é a medida mais conhecida e, a partir de 50 polegadas (1,27 metros), o esporte também pode ser chamado de long clássico.
Para Fábio Bolota, editor da revista especializada Crvi3er Skateboarding, a modalidade experimenta um grande crescimento nos últimos dois anos e traz novos ídolos, como o skatista Douglas da Lua que foi campeão mundial de speed skate (que chegam a atingir mais de 100 km/h).
"Roda mole e prancha longa, surfar no asfalto em dias sem onda sem precisar tentar fazer manobras absurdas, e apenas sentir o vento da liberdade na cara é o que conquistou as meninas", avalia Bolota, que foi skatista profissional de free style na década de 80.
Mas nem tudo são flores para as gatas das rodinhas. As quedas são inevitáveis e fazem parte da rotina delas também. "Já tomei um "rola" quando um carro entrou na tangente e o skate passou numa valeta a uns 60 km/h, e o resultado foram sete pontos no queixo", lembra a professora de ioga Camilla Vasconcellos, de 30 anos.
Camilla namora o vice-campeão de skate slalom, o produtor de eventos Dery Sprovieri, de 47 anos, que como bom budista acredita no caminho do meio: "Não é preciso radicalizar, o importante é a diversão", medita.
Já a dublê de cenas de risco Thainá Simon, 17 anos, concorda com Dery, mas está decepcionada com as colegas. "Tem muita menina que te deseja boa sorte, mas no fundo está se corroendo por dentro de inveja de você", fofoca a loira de cabelos esvoaçantes.
"Agora está na moda menina andar de skate", afirma a surfista e praticante de muay thai Thais Brilhante, de 31 anos, que mora em Newport Beach, na Califórnia, e participou da "session" exclusiva no bairro do Ipiranga. Chamativa, Thais, nunca viu problema de preconceito, nem de assédio, e aposta que existem mais meninas andando de skate longboard no Brasil do que nos Estados Unidos.
Quem está aproveitando para remar na onda de sucesso da modalidade é a skatista e surfista Fernanda Creazzo, que pegou o crescimento do esporte e lançou recentemente sua grife, a Six Girls, voltada para a moda longboard para meninas. "Esse é o momento. Toda menina quer se vestir bem, de uma forma confortável, e hoje não tem muitas opções femininas para estar na moda", finaliza.
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